"Pego o telefone e uma maçã. Talvez morder
alguma fruta no meio do diálogo dê a impressão de que te ligar é um
acontecimento casual, que estou nem aí na verdade, só estou fazendo hora
porque a água do meu banho ainda não esquentou, e eu estava sem nada
pra fazer de toda forma. “E aí, como vão as coisas?”, ensaio. Abocanho a
maçã, mas não digito seus números. Quando crio coragem, o buraco na
fruta exibe a carne ressecando e escurecendo de oxidação. Ligo,
chama-chama e não atende. Me sinto enjoado. A secretária eletrônica me
encaminha até a caixa postal. Deixo recado: juro, dessa vez estive muito
perto de te esquecer."
- Gabito Nunes.